terça-feira, 6 de julho de 2010

Fashion People: Frida Kahlo


Hoje Frida Kahlo completaria 103 anos se estivesse viva, mas ela se foi com apenas 47. Difícil falar sobre uma mulher tão fantástica e tão complexa.

Friducha, como era conhecida entre os mais íntimos, nunca foi uma menina comum. Filha de pai alemão e mãe mexicana, na adolescência criou o hábito de se vestir como homem. Usava trajes completos e parecia um menino no meio das irmãs. Estes trajes eram um hábito dos "Cachuchas", um grupo de amigos do qual Kahlo fazia parte e que mais tarde se tornariam grandes homens das Artes, Política e Ciências no México. Frida era a única integrante mulher. Ela não nasceu para ser uma pessoa comum. Nem mesmo a poliomielite da infância e um autocarro em seu caminho na adolescência foram capazes de pará-la.

Kahlo sofreu um acidente horrível em 1925, quando o autocarro em que estava quando voltava para casa depois da aula se chocou com um ônibus. Neste acidente uma barra de ferro atravessou seu corpo e quebrou sua coluna, fazendo com que ela sofresse as dores daquele dia por toda a sua vida. Esta barra também quebrou sua vida e fez com que ela começasse uma nova fase na qual a pintura seria a grande estrela, seu alívio, sua amiga e confidente.


Frida em sua cama com um dos muitos coletes de gesso que usou após uma das dezenas de operações que fez durante toda a sua vida. Ela costumava pintá-los e hoje eles são peças de museu.

Em casa, enquanto se recuperava lentamente do acidente, a menina espevitada procurava algo com que se distrair e começou a brincar com as tintas que seu pai, Guillermo Kahlo, fotógrafo de profissão, usava para retocar suas fotos. A brincadeira tomou proporções tão grandiosas que levou Frida a ser uma das pintoras mais cultuadas do mundo até hoje. Neste longo caminho ela se casou com Diego Rivera, grande muralista mexicano, quem ela tinha conhecido em 1922, quando este pintava um mural em sua escola. Diego (o elefante) foi o grande amor da pomba, como Frida ficou conhecida após se casarem em 1929. Estes apelidos foram dados por Guillermo Kahlo, pai de Frida e a imagem abaixo explica o por quê.


Frida e Diego. Foto do dia de seu casamento em 1929.

Conheceu também Pablo Picasso, que disse a Diego em uma conversa :"nem eu nem você jamais seremos capazes de pintar uma cabeça como o faz Frida". Frida amou Trotzky, amou Nickolas Muray... amou muita gente, pois tinha um coração enorme, no qual não cabia todo o amor que perambulava por seu corpo.

Frida amou seu México acima de tudo. Tinha orgulho de ser mexicana, tinha orgulho de carregar o sangue dos revolucionários nas veias e lutou sempre pelo bem de sua gente. Foi ativista política, bateu de frente com o presidente, assim como fazia com qualquer pessoa que se sentia no direito de podar o direito de expressão dos artistas de seu país.
Ela era uma cabeça pensante, inquieta, agitada. Criou maravilhas em seu universo, mundos completos e gigantescos, enquanto muitas vezes sua realidade se resumia a uma cama com um espelho no dossel, para que pudesse se ver e se pintar. Kahlo fez questão de cuidar de sua vida e seu marido, foi sempre independente e lutou até o fim. Suportou as dores na coluna, a dor dos filhos que não chegaram a nascer e até a mais insuportável que foi a de se separar de Diego em 1939. Em 1941 o casal retoma o relacionamento e após a morte de Frida em 1954, Diego dirá que ela foi a mulher que ele mais amou na vida.
O legado de Frida para a moda foi a excentricidade. Na verdade ela não se considerava excêntrica (e nem era a meu ver), mas suas roupas indígenas e suas jóias pré-colombianas lhe davam um poder magnético. Era impossível não se maravilhar com aquela profusão de cores, bordados, jóias e flores. Tudo aquilo podia ser chamado de orgulho mexicano. Frida não tinha vergonha de seu país nem de seu povo e fazia questão de mostrá-lo em sua imagem. Uma vez, quando criticada por Maria Félix, grande atriz mexicana e sucesso em Hollywood, Frida quebrou uma garrafa (provavelmente de tequila) na cabeça da atriz e disse que ela é que devia se envergonhar por renegar sua pátria.

Friducha é o retrato de uma pátria colorida, alegre, forte, lutadora, mescla de aztecas, maias e espanhóis. Talvez por isso toda a profusão de sentimentos dentro dela. Impossível defini-la. Ela não era uma mulher simples. Ela era o mundo. Ela era Frida.

Frida com suas jóias pré-colombianas de jade em sua sala, na Casa Azul.




4 comentários:

  1. belíssimo texto. parabéns. realmente Frida Kahlo foi, é e sempre estará na mente e na história da humanidade como um ser singular e uma artista extraordinária. sou fã de Frida.

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  2. Obrigada!
    Frida definiu minha vida em muitos aspectos. Ela acabou sendo parte de mim, por isso essa paixão toda por ela.

    Espero que goste do blog!

    Um abraço!

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  3. Frida tem a história de vida mais linda que já vi, superou tudo com arte e criatividade, uma das coisas que mais admiro nela é essa paixão desmedida pelo México, sua pátria, ela não era influenciada por nem uma outra cultura, era mexicana do acordar ao dormir, um princípio que poucos tem. Admiro muito ela. Grande e inesquecível artista.
    Amei seu texto. Parabéns!

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  4. Roger, muito obrigada! Pelo seu comentário fica clara a sua admiração por ela. Frida merece!

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