Dentre as muitas heranças portuguesas que carregamos desde a colonização, uma das mais bonitas é a tradição das rendas. Essa arte de tecer criando tramas e desenhos rebuscados com linha nos foi trazida de além-mar e absorvida pela nossa cultura, tornando-se um elemento rico de arte e beleza.
Na moda, nem sempre ela aparece, mas se você for ao nordeste ou ao sul, verá que essa tradição segue sempre viva no litoral do país.
Falamos muito sobre rendas francesas, mas você conhece as rendas brasileiras?
A renda de Bilro é muito conhecida no sul do país, principalmente em Santa Catarina, mas também pode ser encontrada no nordeste. Sobre a almofada é preso um papel que será perfurado com alfinetes ou espinhos para fazer a marcação do desenho. Os fios, presos nos bilros (bastões de madeira) são trançados sobre o desenho.
Foto: Marcos Muzi
A renda Irlandesa, declarada Patrimônio Cultural do Brasil pelo IPHAN em 2009 é de encher os olhos. Como ela usa fita, além dos fios trançados, adquire uma cor e um brilho que surpreendem quem a vê. Ela também é feita sobre um molde de papel. Ela é mais encontrada em Sergipe e na cidade de Santa Rosa de Lima, no mesmo estado, são usadas fibras de bananeira para criar a renda.
A renda Frivolité, como o nome sugere, provavelmente surgiu na França. Aqui também a conhecemos pelos nomes Espiguilha, Pontilha ou Rendilha. Diferentemente das outras, essa renda não usa nenhum tipo de apoio, mas sim os dedos e uma agulha (navete). Segura-se a linha e se movimenta a agulha formando os fios. É mais comum em São Paulo, Paraná e Piauí.
A renda Filé é também conhecida como renda de pescador. Suas origens vêm da Pérsia e do Egito, mas foi trazida ao Brasil pelos portugueses. Ela é feita sobre uma base que lembra uma rede de pescar presa a um bastidor para ficar firme no lugar. A agulha usada se parece à agulha usada por pescadores para tecer suas redes, por isso se diz que "onde há pesca, se faz filé". É encontrada mais comumente em Alagoas e no Ceará.
A renda Nhanduti (Ñanduti) ou Tenerife, tem sua origem na Espanha, na ilha de Tenerife, nas Canárias. Foi trazida para a América e no Paraguai ganhou o nome guarani Ñanduti, que designa a teia de aranha, radial e circular como o desenho dessa renda. Ela é feita em um tear circular e depois os círculos são emendados para criar a peça desejada. É mais encontrada na região Sul e no estado de São Paulo.
A renda Renascença, como o próprio nome sugere, surgiu no periódo renascentista na Itália. Alguns historiadores apontam para uma origem árabe, mas nada foi determinado ainda. A renda foi trazida para o Brasil durante o século XVIII. Ela é tecida com agulha e linha utilizando uma fita como suporte, presa ao molde onde fica o desenho da renda. Podemos encontrá-la em Pernambuco e na Paraíba. Essa é a renda mais adorada por noivas, por ser uma das mais delicadas.
Infelizmente, o trabalho manual ainda é muito pouco valorizado no país e a tradição da renda pode se perder. Muitas pessoas não conseguem perceber que a renda que a máquina faz em poucas horas leva dias e até meses para ser feita à mão. É um trabalho minucioso, perfeito, único que carrega toda uma tradição cultural, uma riqueza de detalhes, histórias de uma vida e do nosso próprio país. Quando tiver a oportunidade de ver uma renda dessas ao vivo, ative todos os seus sentidos, para enxergá-la como o tesouro que ela é.