"Você conhece o cobertor Parahyba?" ou como o conhecimento geral do nosso povo é cada dia menor e pior.

Ontem fui ao shopping com a minha mãe comprar um jogo de toalhas. Entramos em uma loja de enxoval e perguntamos pelas toalhas, escolhemos e fomos pagar. Ao lado do caixa havia uma pilha de cobertores, e foi aí que a minha mãe se lembrou que queria comprar um novo para ela. Perguntamos: "vocês tem cobertores Parahyba?"

Uma pergunta tão simples, sobre um dos clássicos de décadas de qualquer enxoval, foi recebida com estranheza: "tenho o quê?" perguntou a vendedora do alto de seus 50 e poucos anos, suponho eu. Mesmo tentando explicar o que era, ela nos olhava com certo desdém, talvez pensando que éramos pré-históricas, sei lá.

Se você tiver 12 anos, não vou estranhar tanto que você não conheça. Se tiver 20, ainda passa. Mas se tiver de 30 para cima e ainda trabalhar em uma loja especializada em roupa de cama, mesa e banho, sinceramente, se eu fosse sua chefe, te demitiria na hora.

Supondo que nem todos os meus leitores tenham se lembrado de cara dos cobertores Parahyba, vou fazer um teste:

Você reconhece esta imagem?

Segundo teste: você reconhece esta música?
(O papagaio da minha tia cantava todo dia às 18h, quando ela guardava a gaiola dentro de casa).

Terceiro teste: você já teve - ou tem - um cobertor como este em casa?

Se alguma dessas imagens ou esta musiquinha mexeu com a sua memória de infância, você sabe do que eu estou falando!

Agora você pode me dizer que eu não posso julgar alguém por não conhecer algo. Realmente eu não posso e a questão aqui não é essa. Na verdade este texto trata da extrema desinformação das pessoas. Tudo bem não conhecer alguma coisa, mas quando você trabalha em algo muito específico, acho importante conhecer o básico, o que deu origem a tudo o que veio depois. Os cobertores Parahyba existem desde 1925, há 87 anos! Ele já foi sonho de consumo de muito casal que montava enxoval para casar e eu diria que para muitos outros continua sendo. Ele fez e faz parte da vida de muitas famílias. 

A questão é que o conhecimento geral das pessoas - assim como o poder de observação - está cada vez menor. Do jeito que a coisa vai, este país vai parar a qualquer momento. As pessoas conhecem cada vez menos coisas e recebem a cada dia que passa mais informações de pior qualidade pela TV. Tudo aqui é nivelado por baixo e todo mundo sofre com isso, porque a qualidade intelectual das pessoas cai. Consequentemente a qualidade do serviço que elas prestam cai. Quantos caixas de lojas você já viu que precisam de uma calculadora para fazer uma conta simples e ainda erram? Eu conheço um monte! Outro dia mesmo fui comprar dois produtos e ia pagar R$22, 40 em um e R$11, 20 no outro. Instantaneamente eu fiz o cálculo de soma, e entreguei R$ 35 para pagar os R$33,60. Fiquei plantada com o dinheiro na mão até que resolvi dizer para a vendedora o total da soma, uma vez que ela não conseguia terminar a conta na calculadora. Quando ela finalmente terminou ainda soltou um "nossa, você é boa em matemática, né?" Será mesmo que eu sou muito boa na matéria ou será que eu aprendi a somar, subtrair, multiplicar e dividir, como deveria ser com qualquer pessoa? Se você não consegue fazer uma conta tão básica de cabeça (reparem que os números são quase redondos, o que facilita ainda mais o cálculo) como pode cuidar do caixa de uma loja??? Imagine quanto dinheiro o pobre coitado do dono perde todos os dias!


Outra coisa que reparo sempre é que lá em casa não podemos mudar a marca de um produto sem que a empregada comece a dizer que algo está faltando em casa. Explico: se compramos sempre desinfetante Pinho Sol e resolvemos comprar outra marca, não adianta insistir que há o produto em casa. Ela bate o pé que não. O motivo? Ela não lê rótulos para saber o que há no armário. Se a gente muda a marca, temos que mostrar prá ela o que é, porque não dá para depender de ela se dispor a ler alguma coisa. A única coisa que ela lê é o caderno da TV que vem no jornal de domingo e o SUPER. Não adianta insistir para que ela volte a estudar, isso não interessa. Ela quer saber é das celebridades instantâneas.


Saber com quem o galã da novela saiu ontem à noite e qual foi o resultado do exame de DNA de gente que nem sequer conhecemos não vai nos levar a lugar algum. O nosso povo precisa conhecer mais as coisas, ler, prestar atenção. A TV não educa (salvo alguns pouquíssimos canais). Livros educam. Idosos educam. Seus avós e seus pais também. A gente precisa conhecer o passado para construir direito o futuro.


Por outro lado, cabeças pensantes, principalmente artistas, escritores, designers e estilistas, estão sempre atentos a tudo o que acontece e lançam novos olhares sobre o mundo e sobre as coisas.

Retornando aos cobertores Parahyba:

Desfile de despedida de Marcelo Sommer para o inverno 2007

Casacos feitos com o tradicional cobertor.

Desfile Auslander Inverno 2012

Os cobertores se transformaram em coletes, ponchos, xales...

Como eu disse acima, vamos olhar o passado para criar o futuro. 

Para saber mais:

Cobertores Parahyba