sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Pensando a moda: tudo é símbolo e conta uma história


Na última terça-feira eu postei um comentário no Facebook que acabou gerando uma discussão saudável e de quebra acabei aprendendo um pouco mais sobre as minhas origens. Explico. Eu havia postado um comentário sobre como alguns posts levam tempo para ser feitos, pois exigem muita pesquisa de dados e imagens. Em seguida postei outro comentário explicando isso. O comentário foi este aqui:



"Eu simplesmente não vejo lógica em usar uma coisa (peça de roupa, acessório) sem saber a origem da peça. Tudo tem significado e a moda existe para que as pessoas se expressem através dela. Se você não sabe a história das coisas, pode passar uma mensagem errada sobre você. 
É como cantar uma música em outro idioma pensando que estou dizendo uma coisa quando estou dizendo outra completamente diferente.É por isso que eu explico tudo nos posts. Acho que este também é o papel da Consultora de Imagem. 
:) "


É verdade. A Consultora de Imagem trabalha com códigos de etiqueta e vestimenta e por isso deve estar atenta à sociedade e aos movimentos comportamentais. Isto não quer dizer absolutamente que a gente não erre, não é isso! Erramos sim, como qualquer pessoa. A questão é tentar ser mais consciente sobre a mensagem que você está passando para os outros.

Acredito que toda e qualquer pessoa deve prestar atenção ao ambiente, às pessoas, ao meio em que vive / convive e assim poderá evitar constrangimentos ou qualquer outra situação difícil de lidar. Para explicar isto, vou contar uma história que aconteceu comigo durante uma viagem à Buenos Aires no ano passado.

Eu viajei em agosto, durante um inverno absurdamente frio e quando montei minha mala, levei uma pequena coleção de boinas. No meio de toda a coleção, tenho uma que comprei no Rio Grande do Sul há alguns anos. Ela é rosa, mas um rosa claro, quase branco. É bem confortável e não exige nenhum penteado específico para manter o cabelo em ordem ao tirar, então eu saía com ela com uma certa frequência. Após alguns dias de uso, eu e minha amiga Valquíria percebemos que algumas pessoas - geralmente os idosos - desviavam de mim na rua, muitas vezes me olhavam torto ou até atravessavam quando eu ia em sua direção. Ninguém dizia nada, mas este fato começou a ficar óbvio.

Uma determinada noite entramos no Galerías Pacífico para jantar e enquanto eu esperava na fila um senhor passou do meu lado e sussurrou "boina blanca". Não tinha como negar, o comentário era prá mim. Ele se apoiou no balcão perto do caixa e começou a conversar com o rapaz da caixa registradora. Quando chegou minha vez de pagar, ele falou "boina blanca" de novo. Não resisti e perguntei, porque devia haver algo errado. 

Foi aí que eu desvendei o mistério. Este senhor me explicou que a "boina blanca" era um símbolo revolucionário da república Argentina. Foi usada pelo fundador do Partido Republicano (1877), Leandro Nicéforo Além, durante a revolução que data de 1890. Pelo que tudo indica, ainda é conhecida como símbolo de revolução e como a cidade ainda tem manifestantes da época do "Panelazo" dando voltas pelo centro, nada mais normal do que eu assustar todos os senhores e senhoras por onde quer que eu passasse.

Todo mundo achou que nós éramos parentes ou compañeros!


Eu não conhecia esta história, basicamente por não ser argentina, mas causei um pequeno rebuliço por onde passei com a minha boina branca. Se vocês acham que é exagero, eu garanto que não. 

Seguindo com a história do Face, minha prima Fernanda, que agora mora na Alemanha, contou que passou uma situação parecida. Não envolvia roupa, mas era outro código histórico que mexe com a auto-estima de um povo e que ela sabiamente chama de "valor cultural".

A Fê contou que durante uma aula, seu professor pediu que ela soletrasse uma palavra (ela está na Alemanha há pouco mais de um ano, então ainda está aprendendo o idioma). Quando ela começou a soletrar a palavra pedida, disse "...ss..." e seu "pürofwessor" a olhou com cara estranha. Ela não entendeu e no fim da soletração ele comentou que na Alemanha não se diz "ss", mas sim "doppel s". O motivo é que o "SS" remete à suástica, o símbolo universalmente conhecido como nazista. A explicação é simples e óbvia depois que a escutamos, mas não quando não se viveu em um país que vivenciou uma época tão dura, triste e constrangedora como o nazismo e a Segunda Guerra Mundial. Não é à toa que qualquer símbolo ou personagem deste período da história cause vergonha e dor aos alemães. 

O mais interessante disso tudo é que na sua origem a suástica é um símbolo de paz. É uma das mais remotas formas da Cruz e as primeiras conhecidas datam de 2.500 a 3.000 a.C. Foram encontradas na Índia e na Ásia Central. A palavra "Suástica" vem do sânscrito e significa "aquilo que traz boa sorte". A sua raiz "Svas" quer dizer bondade.



Alguns exemplos de suásticas mundo afora

Por esta explicação, as intenções de Hitler ficam mais claras. Não que ele fosse alcançar a paz, mas fica fácil entender o que se passava na sua cabeça louca e o por quê de ele se sentir um "salvador da raça ariana".

Este símbolo possui muitos outros significados em muitos outros lugares e se vocês quiserem conhecer mais, cliquem aqui. Vale a pena!

Embora esta segunda história seja mais ligada ao valor cultural, devemos lembrar também que a vestimenta se torna símbolo de uma época ou até de um personagem específico. A minha dica é que sempre que chegar uma informação nas suas mãos como esta da boina blanca, ouça com atenção. Você pode aprender não só sobre a peça, mas talvez sobre a história de toda uma geração.

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